quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Van Gogh

Lembram que eu tinha falado que ia postar um texto que fiz sobre Van Gogh? Entonces, aí esta ele!!! Aproveitem!! Beijux grandes!!

Um passeio com Van Gogh


Nos últimos meses mergulhei em uma área que pouco conhecia: a arte. Ela foi me conquistando de uma maneira inacreditável. Quantos artistas, quantas técnicas, quantas cores, quantas formas. As informações chegavam a mim em épocas: havia a arte rupestre, parecendo que eram apenas desenhos bobos; tinha a arte egípcia, com seu luxo e impecabilidade; a Grécia e Roma, como não poderia deixar de ser, mostraram suas caras mais bonitas. Como não gostar disso?

Meus sonhos, já coloridos, tingiram-se com cores mais fortes. Em uma determinada época, era um sonho mais escuro, com as cores pretas dominando uma parte e as douradas dominando a outra; depois vieram os tons mais neutros e por fim, o vermelho, o laranja, o azul petróleo, o amarelo ovo, chegaram e se estabeleceram na minha mente e na imaginação dos pintores, escultores, arquitetos...

Foi em um dia assim, recheado de cores e informações fascinantes, que eu dormi pensando em Van Gogh. Sabia muito pouco sobre ele, mas gostava de todas as telas que tinha visto. Sou daquelas pessoas que gostam de ver as coisas pintadas como elas são: com um formato, principalmente, definido, mas tudo isso com paixão; e Vincent Van Gogh é assim.

Tive um sonho. Nele, eu conversava com o pintor e tentava entender sua inspiração. A paisagem era de um de seus quadros mais famosos: “A noite estrelada”. O forte azul do céu contrastava com o amarelo intenso da lua e das estrelas, que quase clareavam a noite. As pinceladas em espirais davam a impressão de que o vento modificava o céu, as ruas, as árvores e as casas com a sua passagem. Não era uma pintura limpa e muito bem acabada, as fortes pinceladas davam uma textura grande na tela, mas mostrava uma paisagem bela, pintada por um artista que desenvolveu o seu próprio estilo. Esta noite causava impacto por sua paixão; Van Gogh me contou que pintou-a de um lugar onde foi a muito tempo, uma lembrança de um lugar belo, por isso era uma pintura muito subjetiva, você podia se lembrar da época eu mais lhe aprouvesse.

Vincent disse o que lhe inspirava: a paisagem. Ele achava um desperdício ver a beleza da natureza e não pintá-la. Ver o sol acima de sua cabeça e não aproveitar a sua luz para fazer um quadro mostrando suas nuances em uma tela. “Como posso pintar em um estúdio, como fazem os outros, se o sol está aí, iluminando com um amarelo vivo, tudo que há de mais belo”?

A paisagem de repente muda, e noto que estamos andando por uma estrada rural, com duas pessoas na nossa frente. Um alto e belo cipreste domina a paisagem, um lugar lindo e solitário. Assim como na pintura anterior, as pinceladas fortes são vistas. Não há espirais. Só a ‘textura’ da árvore, o céu amarelo e das figuras ao longe. Ele fala sobre seu descontentamento com seu companheiro de casa, Gauguin. Seus estilos se confundiam ao longo das obras de cada um, um influenciava o outro. Vincent se perguntava porque brigavam tanto e porque aquilo o aborrecia imensamente. Após uma dessas brigas violentas, ele decepou ao lóbulo da orelha. Pergunto se os boatos de que teria guardado o pedaço e mandado para Gauguin ou para uma prostituta são verdadeiros. Ele nada responde, só anda em frente.

Como qualquer artista, Van Gogh gostava de pintar paisagens mortas. Outro quadro famoso, que ao longo das décadas foi copiada, imitado e reproduzido à exaustão, e que agora admirava ao seu lado, era o vaso de girassóis. Seria um vaso como qualquer um, se não fosse o fato de que as flores praticamente saltavam da tela. Observei que algumas estavam murchando e morrendo, perguntei-lhe o porquê. A resposta veio com um sorriso para uma resposta óbvia: “as flores murcham; não posso pintar um vaso com todas as flores brilhantes e viçosas: não pareceria real”.

O nosso papo foi chegando ao fim. Ao longo dos quadros que passamos, seu estilo mudou de um desenho exato do que via, muito fidedigno; para o pontilhamento, as cores se misturavam no olhar do espectador, cada um via o quadro de uma maneira diferente; para as fortes pinceladas variadas com outras mais simples, de vários de seus quadros; para as espirais. A forma de pintar variava de acordo com seu humor inconstante. Várias teorias e várias doenças foram atribuídas a ele, nenhuma confirmada com exatidão, mas podia-se ver, através de sua arte, a tristeza e a solidão que sentia.

Nos despedimos em um dos últimos quadros que ele pintou: “Campo de trigo com corvos”. As pinceladas azuis escuras demonstram descontentamento, raiva. O amarelo, presente em grande parte do que pintou, também está lá. Porém, o mais intrigante dessa pintura não é a técnica utilizada, nem as cores primárias. O que impressiona são os corvos no céu. Esses pássaros são vistos como agourentos. Van Gogh comenta que aquela pintura refletia o seu estado de espírito na maioria do tempo, e naquele dia, estava pior.

O verdadeiro adeus vem quando abro os olhos. Vejo que continuo na minha cama, no meu quarto familiar, recheado de lembranças boas. Lembro do sonho vivido que tive e vou pesquisar sobre esse pintor maravilhoso. Descubro que ele nasceu na Holanda em 1853 e morreu em 1890. Ele morou na Holanda, Bruxelas e França. Descubro que ele pintou mais de 900 telas ao longo da vida (número de obras não confirmado. Varia de escritor a escritor). Descubro também que aproximadamente 400 dessas telas foram feitas nos seus últimos três anos de vida. Ao longo da vida, não foi reconhecido como pintor e só vendeu uma única obra. Sua fama veio após a morte.

Devido aos seus ataques de loucura, cortou um pedaço de orelha e que, em uma tentativa desesperada de chamar a atenção, ou de acabar com a agonia que sentia, atirou em seu peito. A bala não pôde ser extraída e ficou alojada em seu peito durantes três dias. Nesses dias, seu irmão Theo, que o bancou durante a maior parte de sua vida, e com quem tinha uma forte ligação de amor, ficou ao seu lado. Ele morreu serenamente, aos 37 anos. Segundo seu irmão, suas últimas palavras foram: “La tristesse durera toujours”, (a tristeza irá durar para sempre). Que possamos admirar a sua obra pelo pintor que ele foi, e possamos ver que a beleza pode ser linda mesmo, ou principalmente, na tristeza.